Sobre Estigmas da Psiquiatria
Atualizado: 24 de jun. de 2020
A novela "O Outro Lado do Paraíso" causou revolta na comunidade psiquiátrica após o episódio veiculado no dia 21 de Novembro de 2017 pela Rede Globo. A novela apresentou uma narrativa estigmatizante e preconceituosa com a psiquiatria em geral e com a Eletroconvulsoterapia (ECT), um procedimento médico seguro e indicado para tratamento de transtornos psiquiátricos graves.
Há uma série de situações exibidas na novela que não correspondem à realidade de como as internações psiquiátricas são feitas. Todo paciente que chega em uma emergência psiquiátrica passa por uma consulta com o médico, que avalia o paciente não apenas através da entrevista com o familiar, mas também conversando com o próprio paciente e observando seu comportamento. A partir disso, o médico faz um diagnóstico e avalia a real necessidade de uma internação, o que não aconteceu no episódio da novela. Além disso, hoje em dia, as internações psiquiátricas costumam ser curtas para que o paciente siga o tratamento ambulatorial na sua melhor condição psíquica possível. Portanto, nenhum psiquiatra pode avaliar um paciente que recém chegou à emergência e decretar que ele "ficará internado pelo resto da vida", como mostrou a emissora.
Quanto à Eletroconvulsoterapia (ECT), ela algumas vezes é necessária em quadros graves quando as medicações psiquiátricas falham ou quando o paciente apresenta um grande risco (de se suicidar ou de morrer de fome, por exemplo). A ECT não é um método de tortura, como ficou subentendido na novela. O paciente não sente dor, pois ela é feita sob anestesia geral, em ambiente hospitalar, com monitoramento eletrocardiográfico e eletroencefalográfico. O paciente recebe uma baixa corrente elétrica que induz à convulsão, que dura de cerca de 30 segundos. A técnica é eficaz e segura e seu sucesso terapêutico é destacado por múltiplos estudos relacionados ao tema, publicados em periódicos de grande destaque científico.
Portanto, a novela descaracterizou a psiquiatria e prestou um desserviço à população, estimulando o preconceito e o estigma relacionados à internação psiquiátrica e à ECT, que podem, em muitos casos, salvar vidas.
Segue uma boa reportagem sobre o assunto.
Porque a internação de Clara em ‘O Outro Lado do Paraíso’ revoltou os psiquiatras